quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Saltimbancos: teatro de Manguinhos na estrada e a língua portuguesa no bolso


Música de Francisco Buarque de Holanda, texto de Bardotti e Bacalov, direção de Karine Bastos - e também de Geraldo de Andrade e Marcelo Melo em outras temporadas -, com uma trupe dessa, que mais falta para um bom espetáculo?

Faltam os moradores de Manguinhos, estudantes de EJA, homens e mulheres adultos, chefes de família, trabalhadores e que, entre as 19h e 22h, dividindo o tempo com aulas de matemática e de geografia (e de biologia e de filosofia e etc), ensaiam um musical. Eram as aulas de português do ensino fundamental. Era para estarem exercitando a leitura e a escrita, não é mesmo? Pois foram muito além. Com a leitura dramatizada, segundo palavras dos professores de português, Karine e Marcelo: "o mais gratificante foi notar a desenvoltura de cada um com a linguagem, com a história, com o palco; notar os resgates que, de alguma forma, existiram. O sucesso foi tão grande que esta mesma turma foi convidada para fazer a mesma apresentação no evento Fiocruz pra você 2009, data da Campanha Nacional de Vacinação".

E é fato. Inicialmente como atividade final do semestre, sendo apresentado no Laboratórios do Livre Saber para uma platéia moradora de Manguinhos, a trupe teatral formada por estudantes do Fundamental, foi convidada por servidores da Fiocruz que haviam assistido suas duas apresentações (sim duas, pois teve bis para o último dia da semana de arte, cultura e tecnologia do PEJA). E de cá, do Auditório Elenice Saturnino, no Espaço Casa Viva, dentro de Manguinhos, foram Marcelo Costa, Greice, Jacinta, Rosângela, Marcele, Graça, Maria de Fátima, Elisângela, apresentar o musical para um público da cidade, no movimentado Fiocruz Pra Você. Evento público de atrações culturais e de atividades ligadas à educação & saúde, que a Fundação promove junto à campanha de vacinação. Nas dependências do Parque da Ciência, estudantes do PEJA-Manguinhos, todos já “veteranos” nessa montagem desde sua estréia em 2008, puseram o musical novamente em exibição pública, contagiando neste novo ambiente as várias crianças que passeavam pelo evento na tarde de sábado, em 20 de junho de 2009. Nesta montagem colaborou com a turma também Geraldo de Andrade. Na fotografia, ao lado da professora Karine, está Marcelo Melo, que em 2009 também enveredou pelas experiências de palco para no PEJA fazer do estudo da língua mais do que um prazer: outrossim, criação coletiva de alta qualidade!


Felipe Eugênio

O teatro do PEJA-Manguinhos: temporada pela fiocruz - parte I


Abaixo vai a matéria que saiu no site da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (ENSP), sobre a peça "A Saúde da Saúde", de Geraldo de Andrade (o Seu Geraldo), montada pela turma de estudantes do PEJA-Manguinhos.

E esse foi o início de uma temporada. O publico pediu e o povo do peja enveredou "na estrada". Tudo bem que o circuito não era extenso. Ficam valendo os aplausos, que provinham de mãos variadas.

o link:
http://www.ensp.fiocruz.br/portal-ensp/informe/materia/index.php?matid=18403&origem=4

55 anos ENSP

Informe Ensp

Público lota Tenda da Saúde para assistir último dia do Prata da Casa

ENSP, publicada em 28/09/2009

A Tenda da Saúde recebeu um grande público no último dia do Festival Prata da Casa, quinta-feira (24/09), para assistir a shows de música e teatro. O primeiro foi "Vem Me Ver", do médico homeopata Pedro Jonathas, do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria da ENSP. Mesclando poesias, clássicos da MPB e músicas de sua autoria, Pedro Jonathas também falou da luta contra a fome e a desigualdade travada pelas personalidades que inspiraram a semana comemorativa dos 55 anos da ENSP. Em seguida, o público assistiu à apresentação de Irene Azevedo no show de MPB "V do Avesso".

Em seu show de voz e violão, Irene leu frases de Gandhi e Josué de Castro escritas nos cartazes decorativos da tenda e tocou músicas de artistas da música popular brasileira como Nando Reis e Paulinho Moska. Antes, o médico Pedro Jonathas falou sobre o processo de composição de suas canções, baseadas no trabalho e na vida desses homens, como "Coração África" dedicada a Nelson Mandela.

Além das apresentações musicais, também foi exibido na Tenda da Saúde o documentário "Filipe de 2006", produzido e dirigido por Margarida Hernandez. O filme apresenta a vida do garoto Filipe dentro do hospital enquanto espera por um transplante de coração e fala de seu otimismo e a esperança na luta pela vida.

Encerrando as atividades culturais da Tenda, o grupo de teatro A Gente da Favela, formado por alunos do Programa de Educação para Jovens e Adultos (Peja) da comunidade de Manguinhos, encenou a peça "Saúde da Saúde", escrita e dirigida por Geraldo de Andrade. Com humor e críticas ácidas, a peça debate as condições atuais da saúde brasileira e alerta para a necessidade de rever o conceito. Através do diálogo de oito atores que representavam profissionais da saúde e trabalhadores de outras áreas, o grupo falou do meio ambiente, segurança no trabalho e fez críticas à corrupção na política, que impede que mais recursos cheguem à saúde.

Fora da Tenda da Saúde, a Oficina Artesanal do Centro de Saúde Escola expôs produtos feitos pelos participantes da oficina, como panos de prato, de mesa e outros produtos. Além de funcionar como uma terapia, proporcionando a troca de saberes entre os participantes, a Oficina também é uma forma de promover a geração de renda dentro e fora da comunidade de Manguinhos.

A equipe de odontologia do Centro de Saúde Escola também expôs seu trabalho, orientou os presentes sobre as formas corretas de escovar os dentes com o "Bocão" - uma grande boca de madeira utilizada na demonstração. Fantasiadas de Bruxa Docilda e Fada dos Dentes, a equipe mostrou a encenação orientada ao público infantil sobre como cuidar dos dentes. No eterno embate entre o bem e o mal, a Bruxa Docilda incitava as crianças a comerem doces, e a Fada dos Dentes alertava-os para os problemas que a sua ingestão pode trazer.


Felipe Eugênio

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Seu Geraldo, um dramaturgo de Manguinhos



Há quem se recorde de Luiz Mendonça. O trabalho dele segue longevo. Como já dizia verso de João Nogueira, morre o homem fica a obra.

Seu Geraldo é um sujeito com muita presença de espírito. Dificilmente se admitiria obra de terceiros. Diria, como aliás, disse: "a arte mora na gente; e ela faz um monte de puchadinho pra caber mais gente na gente!" Geraldo Andrade, discípulo de Luiz Mendonça, considera que se cruzaram as relações de referência entre ele e o dramaturgo falecido. Se Seu Geraldo é a presença do teatro em Manguinhos, impulsionado pelo trabalho de Luiz Mendonça através da ENSP, o próprio Mendonça é memória resgatável graças à qualidade das peças de Seu Geraldo. Quadros que se fundem, passado e presente.

Assim, em setembro deste 2009, o PEJA-Manguinhos junto com o dramaturgo de Manguinhos, Geraldo de Andrade, estabeleceu a inclusão do teatro junto às turmas do ensino fundamental e médio. Com seu próprio texto, Geraldo de Andrade dirigiu junto com a professora do PEJA, Karine Bastos, o grupo de teatro com estudantes do PEJA, intitulado “A Gente da Favela”. A peça é "A Saúde da Saúde", que traz em seu conteúdo críticas ácidas à situação atual da Saúde e da sociedade brasileira - da gestão do SUS ao modelo clientelista da política representativa, passando pela exploração da mão de obra do trabalhador e, enfim, chamando à discussão as determinações sociais da Saúde, assim se deu uma apresentação na qual os atores amadores se divertiram. Nada mais artístico do que ser aquele que ama, amador.

Os ensaios aconteciam durante as aulas de Artes do PEJA-Manguinhos. A peça foi exibida no festival Prata da Casa, ocorrido na Ensp.

O que ficará deste grupo de teatro que emerge de um EJA? Disse dependerá de mais autores como Seu Geraldo colocarem no papel e no corpo mais e tantas mais expressões que não se calam em Manguinhos.


Felipe Eugênio